segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

R9

O ano era 1999, como na música daquele que um dia se chamou Prince. Confortavelmente apertado entre meus companheiros Sergio Costa e Andréa Bruxellas, seguia para Buenos Aires e, depois, Mar Del Plata, onde cobriria um Sul-Americano de Natação. Meu jornal já havia sido desmembrado entre os três, mas só a página de esportes interessava não somente a nós, mas a todos naquele avião. "RUPTURA DO TENDÃO PATELAR". Algo de que nunca ouvira falar. Tão aparentemente grave quanto as imagens do dia anterior, quando o joelho de Ronaldo havia "desmontado" no meio de uma arrancada. Entre infográficos - acho que esse termo ainda nem era usado na época - e opiniões de diferentes médicos, uma certeza: dificilmente ele voltaria a ser o mesmo, se voltasse a jogar futebol.

Três anos depois, em Seul, lá estava eu, no meio do bloco de carnaval que percorria os corredores do International Broadcast Center, curtindo com a cara de jornalistas argentinos, ingleses e, principalmente, alemães, enquanto cantava a plenos pulmões o penta conquistado com dois gols de Ronaldo na final.

Um dos baratos de se envelhecer, quando se é um jornalista esportivo, é começar a valorizar a chance de ter podido acompanhar, do início ao fim, carreiras como as de Ronaldo. Uma história bonita, repleta de tudo que um astro do rock, digo, futebol, pode querer. E que, por isso mesmo, termina com um quê de novela burlesca.

Ronaldo nos deu uma Copa, com oito gols em 2002. Nos tirou outra, com sua misteriosa convulsão antes da final em 98. Ou talvez duas, tendo sido o "Presidente" da turma do oba-oba e da balança em 2006.

E quem há de dizer que essa balança pesa contra ele, o maior artilheiro de todas as Copas e herói do penta?

Ronaldo foi três vezes eleito o melhor do mundo, numa época em que ser o melhor era estar acima de nomes como Zidane, Figo e Weah. Também por três vezes superou graves lesões nos joelhos, duas delas em joelhos diferentes, a tal ruptura patelar. E eu estava entre os que duvidaram de seu retorno ao campo em ambas, principalmente a segunda, há apenas três anos, quando o craque já tinha 31.

Ronaldo foi craque, sim. Da bola e do marketing. Se associou à gigante Nike como nenhum boleiro havia feito antes. Tornou sua imagem mundial. Tornou-se um ídolo mundial. O que só fez aumentar a repercussão de seus escândalos e desentendimentos, fosse com travestis, esposas ou até seu assessor. E tudo ísso apenas arranhou sua imagem.

Foi traidor não uma, mas duas vezes, no tortuoso caminho Barcelona-Internazionale-Real Madrid-Milan. Foi gênio no Barça, mas saiu. Ídolo na Inter, mas saiu - depois de quinze meses recebendo salários em dia enquanto se recuperava da lesão de 99. No Real, coexistou com galáticos mas não levantou as taças esperadas. No Milan, já era uma sombra de si. E ainda teve o Corinthians, onde foi decisivo para as conquistas de um Campeonato Paulista e uma Copa do Brasil. Mas saiu pressionado por uma chuva de moedas e críticas.

E assim sai do futebol. Quem há de dizer que sai tarde? (Cedo, certamente, ninguém).

Ronaldo foi até onde pôde. Chegou onde jamais sonhou.



Ponto final posto, resta discutir o verdadeiro lugar dele na história do futebol. Ronaldo entra, claro, diretamente no panteão dos maiores atacantes de todos os tempos. E aqui já me limito a eles, os atacantes, pois se abrir mais a lista, entrarão umas duas dúzias de craques na frente dele.

Tiro os títulos, os gols em Copas, os comerciais e a idolatria mundial. Fico apenas com a bola.

E aí, sou mais Romário. E, se fosse pro meu time, Marco Van Basten, em seus tempos de glórias e tornozelos inteiros.

Questão de gosto, pura e simples.

5 comentários:

Bolinho disse...

Parou mal, optou por ser ex-atleta em atividade. Respeito a história dele, mas deveria ter parado depois daquela conquista da Copa do Brasil, ha dois anos.

Caralho, eu vi ele começar e agora terminar a carreira. Tamos velhos pra caralho!

Anônimo disse...

Van Basten melhor que ele só pode ser brincadeira.

Thiago disse...

Realmente, gosto é gosto. Meu velho vive dizendo que o Reinaldo do Atlético-MG era mais bola que todos, no nível do Romário. E eu que vi o Careca tanto tampo no Nápoli, todo domingo na Band ainda acho até hoje que ele era no mesmo nível técnico', só não ficou tão famoso nem ganhou tanto. Mas claro que o Ronaldo pelo que fez será sempre colocado acima de todos esses, tirando o baixinho. Também concordo que ele devia ter parado em 2009, campeão. Foi quando soube que não iria pra Copa que perdeu de vez a motivação pra manter a forma. Mesmo gordo foi craque.

Anônimo disse...

Duro é ler coisas como 'maior atacante de todos os tempos'.

Edu Mendonça disse...

@Bolinho: velhíssimos! Olha a lista: Jordan, Schumi (posso dizer que parou, né?), Zidane, Tyson, Iverson, Michael Johnson, Hosoi, Caballero, Pippen... só pra citar alguns dos favoritos da casa que vi do início ao fim...

@Thiago: Tens toda razão, gosto é gosto. Basta ver, nos últimos dias, para onde penderam as comparações entre Ronaldo e Romário. Para mim, sinceramente, não tem comparação.

@anônimo do dia 15: Duro não, duríssimo, amigo. Parece que nunca houve Pelé, Garrincha, Di Stéfano, Puskas..